Nossa entrevista Cães e Cia de março 2018 – Como escolher um criador
- Há quantos anos está envolvida com a cinofilia? Ingressou nesse meio com a criação de quais raças e por que motivos? Estou envolvida com a cinofilia desde 2008. Sempre estive envolvida com animais porém não conhecia a real função do pedigree e da seleção de cães de raça. Tive cães, descendentes de cães registrados, porém os meus não tinham registro. Sempre tive muitos animais. Cães, gatos, cabra, passarinho, hamster, coelho, cavalo etc, mas comecei a conhecer mais sobre a cinofilia em 2007. Naquela época eu ainda achava que canil de cães de raça vendia cães em feiras. Foi quando comprei a minha Pit Bull. Através dela e da internet, conheci muitas pessoas do meio e quando comprei meu primeiro Dobermann em 2008, eu já estava apaixonada por isso tudo e busquei ele em um bom canil. A partir daí comecei a montar o meu plantel. Mas a cinofilia me envolveu mais do que um dia eu poderia imaginar. Atualmente crio Dobermann, Whippet e Pequeno Lebrel Italiano.
- Porque a frase: Não compre, adote, de Luiza Mell durante resgate de animais em uma fábrica de filhotes causou tanta polêmica entre criadores de cães de raça? Essa frase causa polêmica há muito tempo e já foi alvo de campanhas entre criadores como ‘Comprar ou adotar é opção, cuidar e não abandonar é obrigação’. Isso ocorre em razão do ataque à venda de animais como se essa fosse a causa do abandono e dos maus tratos. Enquanto isso, a mídia poderia ser utilizada para campanhas de conscientização. Explicar para as pessoas que a castração é boa, que não devem reproduzir os seus animais, que devem cuidar, não devem abandonar e, se for comprar, que busquem um criador registrado e façam a compra diretamente com o criador. Que não comprem em lojas, feiras, beira de rodovia, nem do vizinho. O grande problema é que os protetores famosos direcionam os ataques aos criadores. É ofensivo para um criador quando ele é comparado a uma fábrica de filhotes. A questão a se discutir não é adotar versus comprar. É adquirir de forma responsável. O cão é um integrante da família e não um objeto de decoração.
- Muitos que são contra a compra de filhotes argumentam ser um comércio do útero, que criadores prejudicam a saúde de fêmeas fazendo com que tenham ninhadas seguidas. O que acontece na realidade, da criação correta? A criação sustentável e responsável é acompanhada por médico veterinário e monitorada diariamente pelo criador, que estuda sobre a raça, criação, comportamento, manejo, saúde etc. Para o cão, é natural acasalar e ter filhotes. Tanto que nas ruas isso acontece sem a interferência humana. O criador propicia que isso ocorra de forma controlada, dá suporte à fêmea, aos filhotes, alimentação adequada, espaço e principalmente, procura destinar os seus filhotes para quem mostra que terá os cuidados necessários. Normalmente pessoas que usam esse tipo de argumento o fazem com base em princípios veganos abolicionistas. Mas poucos sabem o que isso quer dizer ou aplicam em sua vida. A maioria delas continua consumindo produtos de origem animal, medicamentos que foram testados em animais etc. Cães e gatos são carnívoros. Necessitam que animais sejam criados e abatidos para que permaneçam em meio à sociedade. Veganismo e bem-estarismo não é a mesma coisa. Todo criador ético deve ser bem-estarista. Caso contrário, ele apenas está explorando um animal. Qual a diferença entre o gado e o cão? Por que pessoas que afirmam isso enxergam esses animais de forma diferente? O mesmo criador que planeja ninhadas, cuida dos seus animais! Porém a maioria da população prefere continuar comprando animais de exploradores. Enquanto isso, os bons criadores levam a culpa da exploração e da falta de responsabilidade das pessoas na hora de adquirir um animal. Isso ocorre em todos os ramos. As pessoas reclamam dos agrotóxicos mas na hora de comprar um legume, querem preço. Reclamam do preço da carne mas depois querem cobrar que animais sejam bem cuidados e não querem pagar o custo disso. Conheço muitos protetores que na internet apoiam essa campanha mas possuem animais comprados do vizinho, em feiras etc, porque querem um animal de raça mas não querem pagar pelo custo da criação ética.
- Você menciona um termo interessante, de criação sustentável. O que é uma criação sustentável para você, como ela deve ser? A cinofilia é uma área de conhecimento dedicada exclusivamente ao estudo e criação de cães em todos seus aspectos. No que diz respeito à criação de cães, essa prática envolve muito mais aspectos que apenas acasalar dois cães. O desenvolvimento das raças caninas deu-se através do trabalho do ser humano que selecionou exemplares para um fim específico. Portanto, procriar cães envolve paixão, dedicação e conhecimento de raças específicas. Para que seja possível a perpetuação de padrões é necessário conhecimento e muitas vezes um investimento maior que a arrecadação. Porém não vejo justiça nisso. O valor investido e o trabalho exercido deveria retornar para que assim a criação possa se sustentar de forma saudável. Podemos identificar algumas diferenças de forma fácil. Criadores registram os cães que reproduzem, independente de vendê-los ou não. Comerciantes vendem com pedigree opcional [e cobram a mais por isso] ou vendem cães ‘puros’ mas sem pedigree [ou seja, não são cães de raça]. Criadores selecionam os cães que reproduzem por linhagem e características específicas. Comerciantes reproduzem qualquer exemplar da raça, ou que pareça pertencer a determinada raça, apenas com a intenção de revender os filhotes. Criadores conversam com os possíveis compradores antes de fechar alguma venda e dão orientação antes de depois da aquisição. Comerciantes vendem para qualquer um que possa pagar e em muitos casos dão informações erradas apenas para vender. Criadores se preocupam com a saúde e o bem estar do plantel e dos filhotes, mesmo após a venda. Tratam seus cães com amor e conhecem a raça que criam [temperamento, genética e características individuais de cada cão]. Comerciantes revendem até cães de criação de fundo de quintal ou de exploradores. Criadores não vendem cães em gaiolas de feiras ou pet shops. Não expõem seus filhotes a vitrines.
- Como ser um criador ético? Qual a ética na criação de animais de raça? Seria mais fácil se tivéssemos um código único, como na advocacia, por exemplo. Os clubes costumam ter seu código de ética mas ele fala mais sobre deveres de cada função do que sobre como se deve criar. Mas os clubes também mantém orientação sobre criação disponíveis para os seus afiliados. Basicamente, um criador deve estar atento a isso. Resguardar a saúde dos seus cães e procurar encaminhar seus cães de forma cautelosa, pensando no bem-estar dos mesmos. Procurar orientação veterinária, estudar. Criador ético sempre defende o bem-estar dos animais; sejam adquiridos a título oneroso ou gratuito e da mesma forma defendem a reprodução controlada e planejada bem como aquisição de forma planejada.
- Além de criadora você também é advogada, correto? Qual a sua área de especialização/atuação? Trabalhei na área jurídica por 14 anos e advoguei por 8 anos, nas áreas cível e criminal. Suspendi minhas atividades por questão de saúde e nesse ínterim coloquei em prática projetos que envolvem criação, adestramento, produção de artigos para cães e futuramente hospedagem. Em razão disso não retomei minhas atividades como advogada até então. Porém continuo a pesquisar e me envolver em assuntos pertinentes.
- Quando ingressou na cinofilia, as tais fábricas de filhotes já existiam? Acredita que isso se intensificou nos últimos anos? Por que motivos? Falta fiscalização? Você, como criadora, está registrada em que órgãos? Sofre que tipo de fiscalização ou ônus por ser criadora? Sim, já existiam. Porém nem toda criação/comércio não ético decorre de fábricas de filhotes. É mais comum haver revenda de ninhadas particulares do que criação em larga escala. Não que ela não ocorra. Mas mesmo a criação comercial, se não seguir determinadas regras, ela não se sustenta. Os cães adoecem e o prejuízo é maior que a arrecadação. Existem grandes fábricas mas o número de animais produzidos nelas com certeza é muito menor que a criação caseira de cães de raça. Principalmente porque muitos proprietários enxergaram nos revendedores [que se dizem canil] a possibilidade de vender uma ninhada inteira recém desmamada e aumentar a renda doméstica. Isso só existe porque há quem compre o ‘produto’ dessa criação. As pessoas criticam tanto as fábricas de filhotes mas não criticam quem compra nesses locais. Não existe legislação ou fiscalização que faça isso mudar se a mentalidade das pessoas não mudar. Tenho registro na Confederação Brasileira de Cinofilia, filiada à FCI e na América Latina Kennel Clube. Os clubes fazem controle genealógico apenas e estão implantando controle de leitura de microchip. Pagamos manutenção de afixo, anuidade para o Kennel, registros e demais serviços mas não há verificação de ninhadas.
- A obtenção do pedigree é uma prova de que aquele criador é sério e ético? Por que? Não. Infelizmente existem clubes que emitem até registro inicial por foto. Mas ética é uma conduta pessoal. Não é um papel que atesta isso. O criador sério e ético regista. Mas nem todo aquele que registra é ético e sério.
- Que cuidados uma pessoa que quer adquirir um animal de raça precisa ter na escolha do criador e local de compra? O primeiro filtro é o registro. Se for opcional, é melhor pular fora. Criador desenvolve um trabalho de seleção. O registro é um instrumento que o criador tem para isso. Mesmo que você não se interesse em ter o papel em mãos, procure um criador que registra a sua ninhada. Em segundo lugar, criador não vende em lojas ou feiras e nem na rua. Se tentar te empurrar o cão a todo custo, também é bom ficar atento. Muitas vezes não é possível visitar o local por causa da distância. Mas é possível pedir referências com outros clientes. Nenhum criador é perfeito mas se for bom, sempre haverá alguém que falará bem dele. Outro fator a se considerar é o conhecimento sobre a raça que cria. Se o criador não souber falar mais de meia dúzia de palavras sobre a raça ou falar coisas totalmente diferentes do que está escrito no padrão da raça, nem insista. Nem sempre o bom criador está perto. É necessário procurar, conversar e planejar.
- Criadores sérios vendem seus filhotes em pet shops e sites como o mercado livre? Porque? Criadores não vendem cães em gaiolas de feiras ou pet shops, ou mesmo na rua. Não expõem seus filhotes a vitrines. O bem estar dos cães é o principal e também ter noção do tipo de vida que o cão terá. Para quem vende em lojas, não passa de um objeto animado e fofinho [na melhor das hipóteses]. Criador conversa com o comprador, cuida da sua ninhada pessoalmente ou tem funcionário de confiança. Criador não faz desova. Com relação a anúncios em sites, é sempre muito controverso. Eu já fui radicalmente contra. Hoje acho válido para mostrar às pessoas que existe outro tipo de criação e como meio de divulgação e cobrança. Porém, independente do meio de divulgação, após o contato inicial, o filtro não muda. Melhor seria que esses sites não permitissem anúncios de animais. Mas se há, é bom que bons criadores apareçam lá e de preferência, com uma mensagem de conscientização no seu texto.
- Existem formas de avaliar o criador pelos kenneis ou outros órgãos como o CFMV? Se sim como, se não, por quê? Avaliar propriamente dito não. Porém pode sim ajudar. É difícil para um pessoa saber que clubes fazem registros iniciais de qualquer cão e que clubes são mais exigentes. Mas vale a pena pesquisar e não adquirir animais de clubes que emitem qualquer registro. Com relação ao CFMV, temos que considerar que a criação animal não é atividade privativa de médico veterinário. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou a tese de que “não estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de Medicina Veterinária nem à contratação de profissionais nele inscritos como responsáveis técnicos as pessoas jurídicas que explorem as atividades de comercialização de animais vivos e venda de medicamentos veterinários, pois não são atividades reservadas à atuação privativa do médico veterinário”. Não era objeto da ação mas a criação de animais também não está sujeita à registro. Precisamos considerar que grande parte dos bons criadores tem poucas ninhadas e não tem uma estrutura comercial. Transformar o cão em produto fere a natureza da criação de cães de raça. Tal desenvolvimento dá-se de forma filantrópica e não comercial. De acordo com o Código Civil: ‘Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.’ Para exercer uma atividade comercial deve haver ainda a busca pelo lucro. Todo empresário exerce atividade econômica mas nem todo aquele que exerce atividade econômica é empresário; Enquanto a tendência do governo é regulamentar atividades econômicas, a preservação da cinofilia foge a essa tendência. Ao transformar a criação de cães em atividade econômica formal [empresa], tira-se a liberdade do criador de optar por procriar ou não, vender ou não. Afinal, uma empresa não pode trabalhar com caixa negativo nem negar venda a quem pode pagar. A preservação e o melhoramento das raças caninas não comporta a formalização da atividade. O recolhimento de impostos sobre a venda de animais inviabiliza a prática adequada de criação de cães. O comércio de animais em feiras e pet shops é prejudicial à preservação das raças caninas e incentiva a criação de baixa qualidade para obtenção de retorno econômico. Esses filhotes normalmente são provenientes de criação de fundo de quintal ou de procriação comercial sem seleção nem tratos adequados. A criação ética de cães não cumpre o objetivo da prática empresarial. Criar cães significa conhecer uma raça, estudar acasalamentos e destinar os cães gerados para pessoas adequadas a título oneroso ou não. Criação de cães envolve paixão e liberdade, dedicação e abdicação e não obtenção de lucro. Exigir que todo criador tenha registro de empresa ou registro no conselho de medicina é inviável. Exigir que criadores que criam muito e muitas raças, e vendam em lojas, tenham registro de empresa é necessário para que haja fiscalização da vigilância sanitária. Mas muitos dos criadores que estão no topo de rankings, nem estrutura de canil tem. É por isso que vamos enquadrar a maioria dos criadores como clandestinos? Já com relação ao registro em clubes, esse sim é essencial sempre.
- Frequentar exposições de cães de raça também podem ajudar o tutor a encontrar criadores e optar pela raça quer adquirir? Ajuda mas muitas vezes as exposições não são organizadas de forma a atender o público leigo. Melhor seria que fosse. Da mesma forma as provas de trabalho. Mas é muito bom para que possam visualizar as raças pessoalmente. Eventualmente podem conseguir contato com algum expositor ou, buscar junto ao Kennel que está organizando, informações sobre criadores filiados.
- Alguns criadores não gostam de receber futuros proprietários nos canis. Porque isso? Você recebe clientes? Como a visita pode ajudar a escolha do canil? Se a visita for interditada, como podemos nos precaver na escolha do filhote? São muitos motivos. A maioria dos criadores tem o seu canil junto com a sua residência. Canil não é zoológico nem parque de passeio para a família. Sob o aspecto de saúde, visitas precisam ser restritas pois podem carregar viroses e doenças aos cães. A presença de estranhos também costuma deixar os cães muito agitados. Causa estresse e podem ocasionalmente brigar. É ainda pior quando a criação é de cães de guarda. E também é um problema quando se tem ninhada recém nascida e o criador precisa fazer acompanhamento constante. Algumas fêmeas são super protetoras e ficam agitadas demais na presença de estranhos no local, mesmo sem contato direto. Também é necessário ter cautela em razão de assaltos. Nem sempre o suposto visitante está interessado em conhecer os cães. Além da preocupação com alguns radicais que querem invadir instalações em busca de maus tratos. Nós recebemos visitantes, com visita previamente agendada, informando nome e telefone ou após preenchimento do nosso formulário de seleção de filhotes e temos algumas regras. Evitamos receber até a nossa família e amigos em algumas fases. Além do que, família já sabe que para entrar em casa ou dependências do canil, só trocando o calçado ou usando protetor. Amigos não entram nas dependências do canil. Isso é exclusivo para nós ou para o médico veterinário. Também recebemos clientes para entrega de filhotes, seguindo as mesmas regras. Mas hoje é muito fácil pedir um vídeo e ter noção de onde os cães vivem. Os criadores também costumam disponibilizar fotos dos filhotes. Procedendo a escolha com critérios já citados acima, pedir fotos, vídeos, atestado veterinário e até referências costuma ser o suficiente.
- Na sua opinião, o que é preciso ser feito para acabar de vez com essas fábricas de filhotes? Primeiramente a conscientização do público que busca por cães de raça. Se não informarmos as pessoas sobre o que é criação de animais de raça, para que serve um pedigree, prós e contras da castração e da gestação, não adianta ter lei. A fiscalização é difícil e só quem quer trabalhar direito procura seguir as regras estabelecidas. Em segundo, creio que é necessário uma legislação pertinente à criação animal, elaborada em conjunto com quem entende de criação. Dificilmente as propostas de lei que são apresentadas tem algum envolvimento com criador. Criar essa fachada de que criador é criminoso, cafetão, explorador etc. não adianta em nada. Além de ser ofensivo para um cinófilo ser chamado assim, isso é crime de acordo com o Código Penal. Está tramitando o Projeto de Lei 3670/15 do Senado que propõe a alteração do Código Civil para determinar que os animais não serão considerados coisas, mas sim bens móveis. Porém, quando falamos de animais, não podemos diferenciar animais de companhia de animais de produção, como sugere um outro projeto. A diferença é que, quando falamos de animais de companhia, temos que pensar também em formas de controle populacional. Enquanto que o criador de animais de produção pensa em gerar mais, o criador de animais de companhia deve pensar em gerar aquilo que pode encaminhar criteriosamente. Por que criar cães de raça está errado e criar gado de raça para o abate é correto? Penso que quem gosta de cães, quer que eles nasçam. Mas dentro de condições de saúde para que possam crescer saudáveis. Temos animais nas ruas porque as pessoas os colocam lá. A rua ou o fundo de um quintal é o melhor local para um animal nascer? Eu prefiro que nasçam com assistência do criador e do médico veterinário, em ambiente limpo e confortável. Enquanto as pessoas continuarem acasalando seus animais de raça sem conhecimento técnico para isso; enquanto as pessoas continuarem buscando animais de raça baratos sem se preocupar com padrão e saúde; enquanto as pessoas continuarem mantendo seus animais sem raça inteiros [sem castrar]; enquanto as pessoas continuarem abandonando, nada disso vai mudar. As fábricas se sustentam porque há procura para o que elas produzem ou repassam. Muito mais procura do que há na criação ética e seletiva. Se pegarmos como exemplo a raça Dobermann, que em 2016 teve 1.057 cães registrados no CBKC e compararmos com quantos dobermanns nasceram sem registro, eu tenho certeza que nasceram muito mais exemplares sem registro. A culpa disso é dos criadores da raça ou da própria raça? Claro que não! Só há criação de fundo de quintal porque há quem queira tirar uns trocados extras e quem financie isso. Qual a vantagem de se exigir que um criador ético e seletivo se torne uma fábrica regularizada e registrada como empresa e no CRMV? Querer que o criador reproduza o suficiente para bancar o seu negócio [e não seria reproduzir pouco] em vez de criar de forma seletiva? Eu acredito no reconhecimento profissional da atividade de criador como profissional liberal, para que o mesmo possa receber pelo seu serviço e gastos, e doar o animal. Não vejo benefício em ver o animal como um objeto de venda. Nesse caso, quem adquire teria garantias do CDC relativo à prestação de serviço. Qualquer problema nesse sentido na esfera judicial sempre gera muitas decisões diferentes. Querem aplicar o CDC como se cão fosse produto, porém não há como repor um igual, substituir peças nem nada assim. Em que tipo de produto se enquadra um cão? Perecíveis ou não perecíveis? Para mim não faz sentido. E combinado a isso, a proibição da venda de animais em lojas, feiras, ruas e sites de anúncios se não for anúncio de criador registrado. Não que um pet shop não possa indicar criadores. Mas que não tenha animais lá na vitrine. Além disso, campanhas públicas de castração de animais com ou sem raça. Conscientização + legislação pertinente + reconhecimento da atividade profissional do criador + proibição da venda de animais em lojas, feiras, ruas e sites de anúncios se não for anúncio de criador registrado + campanhas públicas de castração. É nessa fórmula que eu acredito.